Comida e corpo: esconder ou partilhar?
Pensamos em comida como numa maneira de partilharmos momentos. Enchemos a casa com o que podemos, para podermos partilhar com quem gostamos ou simplesmente com quem recebemos de visita.
Será que partilhamos sempre a comida? Há momentos em que não nos sentimos à vontade e tendemos a esconder. A crítica pode começar em nós próprios, antes de vir dos outros. Pode acontecer dar por si a culpar-se sempre que tira algo do frigorífico sem conseguir parar e a ver o seu peso a aumentar. E isto pode ser um ciclo vicioso.
Ter um peso que começa a interferir com a sua vida, com os seus gostos, com os tempos livres, com uma caminhada em família ou até na capacidade para trabalhar, deve ser uma chamada de atenção.
Por outro lado, pode haver uma situação em que coma sem parar, se arrependa e queira anular o que comeu por não encaixar no corpo “operação verão”? Parece descabido? Ou quando uma pessoa precisa de se sentir preenchida e logo a seguir sente o receio de engordar e quer “anular” o que comeu, como por exemplo em situações em que se leva o corpo ao limite com exercício físico e o “peso” da culpa por comer em demasia.
Pode-se pensar que ter uma vida equilibrada custa dinheiro e exige esforço. Mas prefere optar pelo conforto ou por ter disciplina? Falaremos sobre este tema num próximo artigo.
Será assim tão diferente a relação que temos com a comida e o corpo?
Pelo que achamos serem excessos, podemos deixar de ir à piscina, nem que seja no quintal da própria casa, ao imaginar o desconforto que isso nos vai causar, antevendo os possíveis pensamentos ou comentários dos outros.
Será que se podem separar os problemas alimentares e a imagem corporal da parte psicológica? Ou será que todos têm ligação com o nosso estado emocional e com o significado que damos à comida?
A tendência para estes problemas têm vindo a aumentar e não se limita ao excesso de peso. Deixo esta reflexão, até ao próximo artigo: Quem nunca sentiu que substituiu um vício por outro? Deixar de comer por fumar? É mais comum do que se pensa. Uma forma de vencer um obstáculo e ganhar outro mais a frente. Neste processo, a terapia psicológica pode ajudar a encontrar formas de vencer vícios sem os substituir por outros.
Até lá conto consigo com uma mão no coração e um pé preparado para a ação.

Lúcia Vanessa Craveiro Menezes Pereira Tavora
Psicóloga Clínica e da Saúde na Fisiolar, Neuropsicóloga, Fundadora The Pineapple Mind, Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde pela Universidade Fernando Pessoa (2020), Pós Graduação em Neuropsicologia Clínica.