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A Lombalgia ‘Inespecífica’ e a Intervenção Fisioterapêutica

Quinta-feira, 30 Dezembro, 2021

As lombalgias são bastante frequentes em todo o mundo e representam, a nível mundial, a principal causa de incapacidade, sendo a intervenção fisioterapêutica na lombalgia algo fundamental. Após um primeiro episódio, entre 44% a 78% dos indivíduos sofrem reincidências.

A forma mais comum de lombalgia é a não específica, que corresponde a 90% dos casos. Apesar da sua alta incidência, na maioria dos casos, a fonte de dor não é identificável e o termo “dor lombar inespecífica” é muitas vezes aplicado, visto que não pode ser atribuída de forma exata e fiável a uma condição específica subjacente (por exemplo, um cancro). 

Apenas 1% a 2% dos indivíduos com dor na coluna têm uma patologia grave. A prevalência de lombalgia radicular é de cerca de 12%, mais frequentemente causada por hérnia discal. Embora possam ser observadas alterações degenerativas em doentes com distúrbios espinhais inespecíficos, tal condição é comum e relacionada com a idade, sendo que a sua presença se correlaciona fracamente com a presença e gravidade dos sintomas. 

Assim, de acordo com a International Classification of Diseases 11 (ICD-11), a lombalgia inespecífica é classificada como “dor primária crónica localizada”. 

A dor primária crónica localizada engloba uma ou mais regiões anatómicas, persiste ou repete-se por mais de três meses, está associada a angústia emocional significativa ou incapacidade funcional significativa e não pode ser explicada por outra condição. Para além disso, é já considerada uma doença e não um sintoma. 

As abordagens atuais reconhecem a etiologia multifatorial da lombalgia inespecífica e a necessidade de adotar um modelo biopsicossocial ao lidar com a condição. Um fator que tem sido indicado como preponderante na origem e persistência da lombalgia inespecífica, é a estabilidade e falta de controlo da coluna vertebral. 

Intervenção Fisioterapêutica na Lombalgia

Os fisioterapeutas têm conhecimentos para avaliar as disfunções do movimento, e nas pessoas com dor, essas disfunções são individuais e específicas, podem estar dependentes de tarefas e podem variar de leves a significativas. Uma avaliação minuciosa e individual assume assim extrema importância, uma vez que a dor tanto pode causar inibição motora (por exemplo, fraqueza), como noutros casos ocorrer facilitação motora (como é o caso do aumento da tensão muscular). Em condições de lombalgia inespecífica, a intervenção fisioterapêutica pode identificar dor associada à fadiga e disfunção do sono, ao medo do movimento e a fraqueza muscular, por exemplo. Em função dessa avaliação, é possível direcionar a intervenção terapêutica ao mecanismo da condição, o que pode incluir: 

  • Exercício físico
  • Educação 
  • Educação Terapêutica em Neurociência (TNE) 
  • Terapia Manual 
  • Mindfulness 
  • TENS (Neuroestimulação Elétrica Transcutânea) 
  • Biofeedback 

​​Referências

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Maria Eduarda Oliosi

Maria Eduarda Oliosi

Fisioterapeuta pela Pontifica Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Mestre em Fisioterapia
Músculo-esquelética pela Universidade de Aveiro e Doutoranda em Fisioterapia na Universidade do Porto.

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