Fisiolar

O afogamento da M.

Sexta-feira, 29 Julho, 2022

Corria o ano de 1981, um dia quente do mês de Agosto. Consigo lembrar-me do dia do afogamento como se tivesse sido ontem.

Lembro-me do cheiro a cloro, dos gritos dos adultos, do som das sirenes da ambulância cada vez mais próxima. Estava muito assustada, no meio de toda aquela azáfama sentia-me ainda mais pequena, muito pequena, quase invisível. Afinal, não era eu a personagem principal deste drama.

Era um dia passado entre família e amigos, muitos adultos, muitas crianças e uma piscina. Daquelas piscinas muito comuns nesta época, construídas em altura e redondas, em que o acesso se fazia por uma escada em altura que mergulhava depois dentro de água.

Foi depois de almoço, os adultos descansavam ao sol no jardim à volta da piscina e as crianças, pelo menos algumas, brincavam dentro de casa. Ninguém deu por nada, ninguém deu pela sua falta, pois acreditavam que brincasse dentro de casa com as demais crianças. Mas assim não era.

Foi um golpe de sorte, uma das tias levantou-se para tratar de um qualquer assunto dentro de casa e foi nesse momento que se deparou com o pequenino corpo da M., de apenas quatro anos, quieto no fundo da piscina. De imediato deu um grito e saltou para dentro de água e de um puxão só, retirou a pequenita da água.

Foram momentos de pânico os que se seguiram...

Correram com ela em braços para dentro, onde a mãe da pequena M. munida de uma coragem sobrenatural que só as mães têm, iniciou as manobras de suporte básico de vida. Respiração boca a boca, massagem cardíaca. Enquanto isso já se tinha contactado o INEM e a ambulância não tardou a chegar. Nesses minutos deu-se o milagre, a pequenita expulsou a água e foi logo colocada em posição de segurança. Seguiram-se grossos cobertores e meias de lã para a aquecer, no meio de um choro de criança assustada que lutava para retomar a consciência. Eu também chorava, afinal era a minha irmã, apenas um ano mais nova do que eu, que se encontrava ali.

Chegou a ambulância e foi levada para o hospital para observação e aspiração. Não teve sequelas, foi um milagre ter sido encontrada a tempo.

Esta história podia ter tido um final muito triste e é um alerta para os adultos que vigiam crianças em espaços com água, olhos sempre abertos. Ninguém viu e ninguém ouviu a pequenita cair na água, as crianças pequenas não se debatem por falta de noção do perigo…

Este verão não entre para a estatística das histórias com finais tristes.

Consulte a brochura Brincar na Água em Segurança da APSI.

Picture of Sofia Freire

Sofia Freire

Porquê deslocar-se, se vamos ter consigo?

Uma experiência verdadeiramente conveniente e diferenciadora.
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