Como lidar com a ansiedade no regresso às rotinas?
Como mãe de dois, uma criança e um jovem adulto, já passei por todas as fases de regresso às rotinas pós-férias. São fases complicadas nas várias etapas escolares dos filhos e nas várias etapas da vida profissional em que nos encontramos. Na nossa sociedade, o peso da organização familiar ainda recai excessiva ou exclusivamente sobre a mulher. Mas também nos é difícil delegar no pai ou companheiro essa organização. Temos medo de perder o controle ou de que alguma coisa possa falhar. A verdade é que a mulher tem mais capacidade para gerir vários temas em simultâneo, é o chamado multitasking, mas esta capacidade leva à exaustão emocional e física elevando os níveis de ansiedade.
O regresso às rotinas
No regresso às rotinas depois das férias já vamos cansadas por tudo aquilo que sabemos que temos que tratar, gerir horários escolares com as atividades extras, inscrições e pagamentos, compra de livros e material escolar, roupa que já não serve, sapatilhas, passes, refeições… e ainda o nosso emprego, cuidar da casa e um sem fim de tarefas que nos autoatribuímos.
Ao longo destes 19 anos de maternidade aprendi que não temos que fazer tudo de forma perfeita, quanto maior a exigência maior a ansiedade. O planeamento é um bom aliado, mas não é preciso fazer um plano novo a cada ano, é replicar o que se tem vindo a fazer e que funcionou.
Não vale a pena sofrer por antecipação no regresso às rotinas
Aprendi também que não vale a pena sofrer por antecipação, se surgir alguma situação mais complicada é gerida no momento. Nem sempre é fácil o malabarismo entre as responsabilidades familiares e os horários de trabalho, mas não há nada como falar com a entidade patronal e tentar arranjar um equilíbrio neste mês que é sempre mais complicado. Tive fases da minha vida em que fazia apenas 30 minutos de almoço para poder sair meia hora mais cedo e ir buscar o meu bebé de 1 ano às 18h em vez de chegar à escola às 18.30. Fez toda a diferença nesse ano em que era muito pequeno para chegar a casa tão tarde.
Outro truque que faço nas férias é ir preparando no telemóvel uma lista de pratos com a respetiva lista de compras e vou organizando as ementas semanais para uns quantos meses. Facilita em tudo, finais de dia mais leves e compras mais eficientes. E não menos importante, compras da semana online, com entrega em casa ou recolha no drive. E não são só as compras de supermercado, mesmo a roupa dos miúdos trato online, poupo tempo em deslocações, cansaço e fico com mais tempo para a família.
Nos dias mais complicados em que vejo que nem tempo vou ter para fazer o jantar recorro ao improviso, o marido vai buscar um frango ou cada um come o que quer e vale tudo!
Prioridades no regresso às rotinas
Houve tempos em que colocava as tarefas da casa à frente de qualquer outro programa, demorei algum tempo a perceber que a minha felicidade não vinha de ter a casa em modo museu imaculado, mas da satisfação que me dava terminar cada tarefa. Mudei o chip quando percebi que programas em família por mais simples que fossem podiam também ser tarefas que quando “concluídas” me davam essa satisfação, acrescida de que todos a valorizavam; já a casa imaculada…
Quando sinto que a ansiedade se começa a instalar repito um pequeno mantra “vai correr tudo bem, mais vale feito do que perfeito”.
Não é um processo fácil, mas é imprescindível que eliminemos da nossa vida os gatilhos que despoletam a ansiedade no regresso às rotinas. Slow living, ou viver devagar é o caminho para uma vida mais tranquila em que se praticam rituais em vez de rotinas. Já pensou que a rotina de deitar as crianças pode ser vista de forma mais agradável se for feito um pequeno ritual que inclua por exemplo a mãe ou o pai lerem umas páginas de um livro e a seguir darem as boas noites a todos os peluches?! Ou quando já sabem ler, serem os filhos a lerem para os pais?
A diferença é que de um momento que pode ser de ansiedade para ambos passa a ser um momento de bem-estar. E podemos levar este ensinamento para várias alturas do nosso dia, no trânsito ouça um podcast ou leia nos transportes públicos. Transforme rotinas em rituais agradáveis.
