Amamentação e vida profissional
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Na primeira semana de Agosto assinala-se a nível mundial a “Semana do Aleitamento Materno”. Para assinalar esta semana, entrevistamos a Sofia que tem 35 anos e é a orgulhosa mãe da bebé M. que tem agora 14 meses. A Sofia contou-nos sobre o processo de decisão de amamentar a M. até ao seu regresso ao trabalho.
Sofia como decorreu a tua gravidez e como é que a entidade patronal lidou com a situação?
A entidade patronal foi a primeira a saber da minha gravidez com apenas 9 semanas de gestação. Para mim seria uma situação complicada porque tinha acabado de passar a efetiva. A entidade patronal foi muito recetiva e mostrou sempre respeito e preocupação. Infelizmente às 12 semanas estava em risco de pré-eclâmpsia e fiquei de baixa. Mais uma vez foram sempre acompanhando a minha evolução e senti-me sempre apoiada.
Sempre soubeste que querias amamentar a tua filha?
Sim, amamentar era o complemento ao sonho de querer ser mãe. Estudei e aprofundei o tema enquanto estive em casa de baixa e sabia a teoria toda. Não tive dúvidas que seria este o caminho e que tudo faria para ser possível.
Foi fácil amamentar ou foi necessário pedir ajuda/aconselhamento?
Foi necessário pedir ajuda, apesar da teoria adquirida não foi fácil, a bebé não sabia pegar e começou a perder peso e o hospital não colaborou. A ajuda veio de uma CAM (conselheira para o aleitamento materno) assim que voltei para casa, corrigiu a pega e numa hora o problema foi resolvido. A M. mamou pela primeira vez na vida aos 4 dias até lá nunca tomou nenhum suplemento. A M. tinha fome e eu tinha muito leite para a alimentar. A falta de CAM ou enfermeiras especializadas em aleitamento materno são uma realidade de muitos hospitais em Portugal.
Quais foram as maiores dificuldades ao amamentar?
Os mamilos gretados, sem dúvida, e as dores que causam. Felizmente nunca tive uma mastite. A CAM ajudou muito nesta situação, com ela aprendi que creme deveria colocar e quais as melhores conchas protetoras de mamilos. Segui os conselhos e nunca mais voltou a acontecer.
Ainda dás de mamar à M.?
Sim, ainda a amamento, quando estou a trabalhar dou de manhã e quando chego a casa até ela ir dormir e as vezes que forem necessárias. Quando estou de folga é um pouco ao sabor da vontade dela!
Até que idade pensas amamenta-la?
Até ela querer e mostrar interesse. Agora com dentes começa a ser mais difícil. Nesta fase preciso de aprender técnicas para amamentar um bebé que já tem dentes e alguns vícios. Os mamilos estão bem cuidados e não quero desistir e por isso continuo a oferecer o peito. Por vezes sinto a rejeição da M. porque tem coisas mais interessantes para fazer! Mas quando quer mimo ou um conforto da mãe, é na mama que o encontra.
Que benefícios achas que a amamentação trouxe para ti e para a M.?
Para mim, psicologicamente foi a concretização dum sonho e foi muito gratificante como mãe poder concretizá-lo. Depois foi sentir que era o centro da vida dela nos primeiros meses. Não menos importante a questão financeira, o leite de fórmula é muito caro e iria pesar muito nas nossas finanças se fosse uma opção ou necessidade.
Os laços de afeto com a mãe são importantes para a estabilidade emocional de qualquer bebé. Sendo o leite materno o alimento mais completo e saudável, é sempre benéfico para a saúde do bebé e depois o fato de estar sempre pronto, em qualquer lugar e ocasião é sem dúvida um grande benefício.
Como foi o regresso ao trabalho?
Foi assustador e angustiante… não estava preparada para a separação. Ela era muito pequena e só mamava. Foram só 6 meses comigo, era pouco. Mas estava tranquila por sabê-la bem. Estive no escritório nas primeiras semanas para estar acompanhada e só mais tarde regressei ao modelo de trabalho híbrido. No primeiro dia chorei o dia inteiro, fui tirar leite à hora de almoço e foi duro.
Para a M. também foi difícil, não comia e chorava muito. Fez febre pela primeira vez, o que associei à ansiedade da separação, mas também coincidiu com o romper dos primeiros dentes. A M. ficou sempre com os meus pais, o que me descansava bastante.
Agora que a M. já completou 1 ano de idade, quais são as medidas de promoção à amamentação de que ainda usufruis no teu emprego?
Usufruo da redução de horário da licença de aleitamento materno que corresponde a uma redução de 2 horas diárias. Entrego a declaração periódica do pediatra e tem corrido tudo bem. As escalas estão programadas contando com a minha redução de horário.
Consideras que a sociedade promove a amamentação? O que incluirias como medidas adicionais nesse sentido?
Começa a existir maior promoção e alertas no sentido de sensibilizar. Mas continua a ser pouco. Tive a sorte de me cruzar com médicos que estão sensibilizados para a amamentação. Ainda se promove muito a suplementação em vez de tentar corrigir algum problema com a amamentação. Os apoios são caros uma vez que nos Centros de Saúde nem sempre se recebe a ajuda necessária.
No plano pré-natal incluiria uma formação e sensibilização para a amamentação. Os cursos de preparação para o parto deveriam abordar mais este tema tão importante.
Alguma vez te sentiste discriminada por amamentar a tua filha em público ou por outras mães?
Não, porque não dou espaço para que isso aconteça, defendo a minha posição e informo sobre tal. Amamento em público sem pudor, mas já senti olhares reprovadores, mas não me afetam.
O que pensas sobre quem decide não amamentar?
Respeito quem decide não o fazer. Tento sempre passar o meu conhecimento para poder ajudar quem possa ter ideias erradas e preconcebidas.
Como pensas que vai acontecer o desmame?
Vai ser duro para mim, mas será natural. Quando ela não quiser, vai acabar. Sem pressão e sem datas, vou deixar seguir até ver. Enquanto estivermos as duas bem vamos continuar.
Adriana Mesquita
"Contadora de estórias"
Numa taça misturo: um pouco da experiência da minha vida, com factos de outras tantas vidas, adiciono um punhado de emoções e levo tudo para uma folha de papel. No final acontece magia que partilho com quem me lê.